Por Marcelo Eduardo Cosentino, vice-presidente de Negócios para segmentos da TOTVS
Existe uma frase famosa do renomado químico Antoine Lavoisier que diz: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Pois então, essa premissa moveu e move muitas companhias na tentativa de se reinventar e sair de dificuldades e, até mesmo, para ampliar os seus negócios e domínios. Se fôssemos reescrever essa frase hoje, a partir de um ponto de vista moderno, teríamos algo como: “no mundo corporativo, tudo se recria e se transforma; ou se perde”.
Isso me trouxe a lembrança daquela empresa que surgiu como locadora de filmes, que investia na comodidade de pedidos online na virada do século XX e se tornou um estúdio de filmes e séries inéditos. Uma gigante do streaming que é copiada sem perdão pelos concorrentes e até mesmo por outros mercados como “case de aproximação”: a Netflix. Mesmo tendo que provar seu valor e se manter no topo todos os anos, a Netflix é um exemplo de empresa que mudou totalmente a natureza do seu negócio. Criando um mercado do zero, aliás.
Vamos a outro exemplo? Podemos falar daquela livraria online que foi expandindo o seu portfólio, sofreu anos e anos de prejuízo, e hoje é sinônimo de e-commerce com todos os produtos que você pode imaginar, registrando bilhões de dólares de lucros: a Amazon. Diga-se de passagem, uma concorrente da Netflix com o streaming Amazon Prime.
Tudo bem, elas começaram do “quase nada” para se tornarem gigantes. Mas a entrada de grandes empresas em novos mercados também acontece, e não apenas redefine o cenário de mercados em competição, como promove impactos diretamente nos consumidores. Vide o mundo antes e depois do YouTube, comprado pelo Google em 2006.
Já que estamos falando de streamings e afins, recentemente observamos um novo capítulo desse fenômeno, com o anúncio do lançamento iminente de um aplicativo para Smart TVs pela plataforma X – o antigo Twitter.
O tabuleiro e os movimentos
Com a (ainda) crescente popularidade do streaming de vídeo e a busca incessante por conteúdo de qualidade, o X está dando o seu passo ao entrar na disputa pela sala de estar das casas, para competir – com os seus vídeos de criadores de conteúdo – diretamente com gigantes como o YouTube, Netflix, Amazon, Max e entre outros. A decisão de lançar um aplicativo para Smart TVs não apenas expande o seu alcance, como também busca fincar uma “bandeira” no rico cenário do entretenimento digital. O mercado global, associado às Smart TVs, estava avaliado em US$ 200 bilhões em 2022 e segue com a previsão de crescimento constante e sólido nos próximos anos.
Neste contexto, outro ponto relevante: o X, apesar dos últimos tempos de indefinição, com mudança de seu nome e de seu comando, vem tentando diversificar as suas ofertas e expandir sua influência para além de seus domínios tradicionais. Este movimento não apenas desafia algumas normas estabelecidas em manuais de negócios por gurus, como também cria oportunidades para que possamos entender e avaliar essa “jogada” arriscada.
Para os consumidores, na prática, isso pode representar mais ofertas, serviços, conteúdo e menores preços – teoricamente. E, quando existe competição, seja lá em qual segmento da economia, a tendência é que exista mais espaço para a inovação. É ela que vai definir quem terá mais relevância e presença entre os consumidores, podendo estar atrelada ao formato de aquisição, de engajamento, de forma, de consumo etc.
Em última análise, o lançamento do aplicativo com vídeos para Smart TVs do X representa mais do que apenas uma jogada estratégica de negócios, ela pode ser – se bem-sucedida – um novo marco na interseção entre tecnologia e entretenimento. Fazendo a ponte entre as onipresentes redes sociais e o mundo do streaming. Um YouTube repaginado? Quem sabe? Não faltam especulações e projeções! O mercado segue em pleno dinamismo, e para nós, telespectadores, vale a pena ficarmos de olho nas disrupções e inovações que vem por aí no mundo dos negócios. De certo, posso afirmar que estamos vendo a história do mundo se desenrolar diante das nossas… telas!