Por Thelma Valverde - CEO da eMiolo, uma startup de tecnologia
A integração de softwares customizados com sistemas legados é uma questão crítica em muitas empresas que buscam modernizar seus processos sem perder a funcionalidade de sistemas antigos, muitas vezes complexos e imersos em décadas de operação. Essa integração exige um equilíbrio delicado, pois enquanto os softwares customizados podem trazer soluções específicas para as necessidades atuais da organização, os sistemas legados, por sua própria natureza, podem dificultar essa adaptação devido a problemas de compatibilidade e arquitetura.
Esses sistemas, que muitas vezes são compostos por plataformas antigas e desenvolvidas sem a previsibilidade de integração com novas tecnologias, são frequentemente rígidos em termos de conectividade e comunicação com outros sistemas. Além disso, foram projetados para atender a um conjunto restrito de necessidades da época em que foram criados, e suas infraestruturas podem ser obsoletas, não oferecendo suporte a protocolos modernos ou a soluções que permitam flexibilidade para integração.
Nesse sentido, o primeiro desafio a ser enfrentado é a compatibilidade de dados. Muitos sistemas utilizam bancos de dados ou estruturas que não são compatíveis com os formatos modernos exigidos pelos novos softwares. Essa falta de interoperabilidade pode resultar em erros de conversão, inconsistências e até corrupção de dados. Por exemplo, empresas que utilizam sistemas legados baseados em mainframes, como o COBOL, podem enfrentar dificuldades significativas ao tentar integrar esses sistemas com bancos de dados modernos ou ferramentas baseadas em tecnologias como SQL ou NoSQL.
Uma solução para esse problema é a utilização de middlewares, que funcionam como uma camada de tradução entre os sistemas. Middlewares, como o IBM MQ ou o MuleSoft, permitem que diferentes tipos de sistemas e tecnologias conversem entre si, sem que a integração direta seja necessária. Esses middlewares podem transformar e mapear dados de um sistema legado para um formato compatível com o novo software, facilitando a integração.
Outro desafio importante é a gestão de mudanças e resistência dos usuários. Quando um software customizado é integrado a um sistema legado, os usuários frequentemente enfrentam uma curva de aprendizado, já que novos processos de negócios podem ser introduzidos, exigindo adaptações tanto do ponto de vista técnico quanto operacional. Isso é especialmente desafiador em organizações grandes e complexas, onde os sistemas legados já estão profundamente enraizados nas operações diárias. A resistência ao novo pode ser um obstáculo significativo. Para superar essa barreira, uma estratégia eficiente de gestão de mudanças deve ser implementada, que inclua treinamento contínuo, acompanhamento pós-implementação e comunicação constante sobre os benefícios das novas soluções.
Ademais, é imperativo que a implementação ocorra de maneira gradual. Optar por uma abordagem de “big bang”, onde todo o sistema é trocado de uma vez, pode ser arriscado. Em vez disso, a integração deve ser feita em fases, começando por áreas ou processos específicos, testando as novas soluções em ambientes controlados, e depois expandindo gradualmente para a operação em larga escala. Essa estratégia reduz o impacto negativo da transição e permite que os problemas sejam identificados e resolvidos antes de uma implementação mais ampla.
A escolha de tecnologias também desempenha um papel crucial nesse processo. A adoção de APIs (Interfaces de Programação de Aplicações) modernas e serviços baseados em nuvem pode simplificar bastante a integração, já que muitas soluções customizadas oferecem suporte nativo para integração com sistemas antigos por meio de APIs. Um sistema CRM moderno pode ser facilmente conectado a um sistema ERP legado por meio de uma API RESTful, permitindo a troca de dados entre os sistemas sem a necessidade de reescrever os programas legados. Tecnologias de microservices também podem ajudar a criar um ponto de integração flexível, permitindo que novos módulos sejam incorporados sem a necessidade de alterar todo o sistema legado.
Outro ponto a ser considerado é o monitoramento contínuo durante e após a transição. Aqui vale lembrar que a integração de sistemas não termina com a implementação. A manutenção e o acompanhamento contínuo das interações entre os sistemas legados e os softwares customizados são essenciais para garantir que as integrações estejam funcionando corretamente e que os dados estejam sendo transmitidos e processados de forma eficiente. O uso de ferramentas de monitoramento em tempo real, como o Prometheus ou o Grafana, pode ser eficaz para detectar falhas e identificar gargalos de performance no processo de integração.
Finalmente, a documentação detalhada de todos os processos e mudanças é vital para garantir a continuidade do trabalho. Muitas vezes, os sistemas legados foram construídos sem a devida documentação, o que dificulta a manutenção e o entendimento da lógica do sistema. Portanto, a documentação clara dos novos processos e das interfaces de integração entre sistemas ajuda a evitar erros e proporciona um ponto de referência para futuras modificações.
Em suma, a integração de softwares customizados com sistemas legados exige não apenas um entendimento técnico profundo de ambas as plataformas, mas também uma gestão cuidadosa dos processos de mudança organizacional. A flexibilidade nas escolhas tecnológicas, aliada a uma comunicação eficaz e treinamento dos usuários, são fundamentais para mitigar os riscos associados à integração e garantir que a empresa possa tirar o máximo proveito de seus novos investimentos tecnológicos.