Por Carlos Simonsen, managing partner da Upload Ventures
Em 1996, o então presidente do Federal Reserve dos EUA, Alan Greenspan, popularizou a expressão “exuberância irracional” (“irrational exuberance”) em um discurso que alertava sobre um otimismo excessivo e insustentável por parte dos investidores nos mercados financeiros. Esse comportamento muitas vezes resulta na elevação exagerada dos preços dos ativos, impulsionada por excesso de confiança e especulação coletiva. Na ocasião, Greenspan utilizou o termo para chamar a atenção para o crescimento desproporcional do mercado de ações, particularmente na bolha das empresas de tecnologia (dot-com), que se formava no final da década de 1990 e início dos anos 2000.
Mais recentemente, vivenciamos um período semelhante, marcado por uma década de ZIRP (Zero Interest Rate Policy, ou Política de Juros Zero) nos Estados Unidos, combinada com as políticas de quantitative easing implementadas pelo Federal Reserve durante a pandemia de Covid-19. Essas medidas criaram um ambiente de baixo custo de capital e alta tolerância ao risco, incentivando investimentos que elevaram o preço de diversos ativos a níveis insustentáveis. Esse ciclo atingiu seu pico no final de 2021. Contudo, entre março e abril de 2022, o cenário mudou radicalmente. A abundância de capital desapareceu, os juros americanos começaram a subir, e o período mais crítico da pandemia já havia sido superado. O mercado de fusões, aquisições e IPOs, que vinha crescendo de forma acelerada, entrou em retração.
Desde então, o mercado de venture capital tem enfrentado uma verdadeira montanha-russa. A resposta dos investidores mais propensos a assumir riscos foi concentrar esforços em empresas em estágios iniciais (seed), nas quais o horizonte de longo prazo permite mitigar os impactos do risco macroeconômico. Enquanto os de late stage e growth foram reduzir os valuation, com isso, os preços inflacionados de ativos foram ajustados, e a economia desaquecida trouxe desafios para alguns, mas também oportunidades para outros.
Nos últimos meses, o mercado começou a demonstrar sinais de recuperação e otimismo, especialmente no segmento de investimentos em growth stage. O volume de investimentos aumentou e mais empresas estão indo ao mercados procurar capital de Venture Capital.
Isso ocorreu após um 2023 marcado pela escassez quase total de funding de growth tornando o segmento particularmente atraente. Embora muitas empresas não resistiram aos impactos da pandemia e às dificuldades enfrentadas nos anos críticos de 2021 e 2022, aquelas que superaram os desafios emergiram como ativos valorizados e resilientes. Essas empresas foram forçadas a reajustar seus modelos de negócios, adaptando-se para prosperar em ambientes mais adversos, caracterizados por escassez de capital, juros elevados e consumidores mais exigentes. Esse processo de adaptação e resiliência não apenas fortaleceu as companhias sobreviventes, mas também as posicionou como protagonistas.
As expectativas para 2025 apontam para um cenário significativamente mais favorável ao mercado de venture capital em comparação a 2024. As empresas fundadas após 2021 estão avançando para estágios de crescimento, amadurecidas em um ambiente mais conservador e exigente, tornando-se uma grande aposta para o futuro. Essas empresas também devem ser beneficiadas pelos impactos positivos das eleições americanas e pelo sólido desempenho da economia brasileira, mesmo diante de transformações políticas.
Além disso, muitas dessas empresas estão nascendo com uma abordagem AI-first, integrando Inteligência Artificial (IA) em seus produtos e processos para otimizar operações, reduzir custos e aumentar a eficiência. Mesmo quando a IA não é o principal ativo do negócio, seu uso estratégico agrega valor e competitividade. Essa tendência não apenas impulsiona o desenvolvimento de tecnologia local, mas também amplia o potencial de expansão global dessas empresas, consolidando seu papel como protagonistas da inovação no cenário atual.
Para os investidores, a chave estará em selecionar gestoras com estratégias focadas em tendências tecnológicas seculares, a fim de se beneficiar das valuations mais atrativas e da disrupção tecnológica que está com IA. Tal estratégia pode ser crucial para obter retornos compostos duradouros na classe de ativo, aproveitando oportunidades enquanto o mercado segue em direções contrárias. história mostra que períodos de crise, como os que deram origem a gigantes como Uber, Airbnb, Google e Amazon, são terrenos férteis para a criação de novas empresas inovadoras.
No atual contexto, em que a volatilidade persiste e o acesso a capital permanece seletivo, adotar a prática de investir enquanto outros vendem, e vender quando o mercado está em alta, pode ser uma oportunidade única para investir nos melhores ativos maximizar retornos.