Visão Executiva

Olimpíadas e o mundo corporativo: lições de competitividade e de resiliência

Shirley Fernandes - fundadora e sócia-diretora da N1 IT

Por Shirley Fernandesfundadora e sócia-diretora da N1 IT


Acompanhar as Olimpíadas de Paris deste ano, mesmo que em fragmentos, já é suficiente para nos permitir uma imersão de reflexões por meio das emoções que os jogos nos trazem na perspectiva da competição, onde cada país busca o destaque, a medalha de cada modalidade de esporte com os atletas que estão ali representando o coração de cada um de nós.
 

Este contexto olímpico nos revela pontos que convergem com a nossa realidade dentro do mundo corporativo no que tange à competitividade, à inteligência emocional mediante a pressão, à batalha pela “medalha” entre os melhores do mercado, à busca em se diferenciar diante de pessoas tão bem preparadas quanto nós, ao privilégio de liderar junto com a grande carga de responsabilidade de representar um time, uma empresa ou até mesmo um grupo empresarial, à necessidade de abrir mão do prazer para o dever, à resiliência para seguir o nosso propósito, à equalização dos medos em sermos julgados, criticados e até mesmo descartados diante de falhas e imperícias que tivermos em nossa jornada olímpica no mundo do trabalho.
 

É sobre essa complexidade que abrange muitos componentes para chegar ao pódio que perfazem nossa jornada também no corporativo.
 

Nossos resultados são frutos da qualidade de nosso pensamento. O que e como pensamos determina nossos sentimentos, que por sua vez trazem a nossa capacidade de elaborar o que sentimos para as melhores tomadas de decisões, que, por fim, nos colocam em prontidão para resultados positivos ou negativos.
 

Esse é o flow! E em uma competição, passamos por esse fluxo em uma partida de um jogo, ou até mesmo em milésimos de segundos, onde a perícia física, o conhecimento da técnica e a inteligência emocional transitam de forma rápida, trazendo ou não o resultado. Falando em Olimpíadas, a sonhada medalha.
 

Temos sentimentos identificados com os atletas no nosso dia a dia e, muitas vezes, perdemos porque desalinhamos os soft skills mesmo com o preparo físico, ou vice-versa. E, muitas vezes, ganhamos e “gritamos” em silêncio em nossas mesas de trabalho.
 

Parece paradoxal, mas não é. Estamos no jogo, eles lá e cada um de nós por aqui, com seus grandes desafios e medos, mas diante de um propósito maior.
 

Vivemos em uma jornada olímpica diária, e cada empresa e cada um de nós, nas devidas proporções, com o sentimento de indignação por algumas derrotas mediante milésimos de segundos de diferença.
 

Cada trabalhador, em sua modalidade de atuação, vive desafios que fogem das telas como uma Olimpíada, mas que no seu cerne de sentimentos e desafios, é o mesmo.
 

A mensagem de reforço relevante que fica para mim nas Olimpíadas é que os desafios, por mais difíceis que sejam dentro do mundo corporativo, jamais tirarão o pódio de quem se prepara e o busca.
 

E faço aqui uma provocação para você, leitor: qual a mensagem de reforço que fica para você?
 

Falo reforço, porque sabemos a lição, mas um reforço sempre nos torna mais hábeis.
 

Gabriel Medina perdeu a oportunidade do ouro porque as ondas das praias de Teahupoʻo (Polinésia Francesa) não ajudaram. Ver o australiano Jack Robinson pegar um tubo raro no dia para vencer o duelo e avançar para a final foi desolador. A vitória não estava no controle dele, precisava de acontecer algo para que pudesse mostrar seu potencial. Toda sua preparação dependia de o mar ter ondas. E as ondas não vieram. Mas a maestria dele foi sensacional e conseguiu cumprir seu propósito.
 

Vivemos como Gabriel Medina, em um mar no mundo corporativo muitas vezes imprevisível, inconstante, ansioso mesmo com todo o preparo de anos. As ondas às vezes não aparecem na nossa vez, e vem o concorrente e leva. Mas também acontece o contrário; na nossa vez pegamos os melhores “tubos” na vida e chegamos ao pódio. Esse é o jogo, sempre aprender e nunca pensar em perder.
 

Há anos estou na liderança, lidando com pessoas o tempo todo, e enxergo uma riqueza no aprendizado que me trazem com a diversidade e as diferenças culturais. E essa convivência nos amadurece e não nos deixa enganar pelo tamanho da primeira onda, como dizem os atletas do surf, porque às vezes a onda vem imponente, mas você não está no lugar certo, se precipita, não se organiza e perde.
 

E como diz a Tatiane Weston-Webb, medalhista brasileira do surf: “Seja persistente e busque estar sempre aprimorando seus conhecimentos e práticas”.
 

Administrar expectativas, continuar no jogo, na batalha, na preparação e na busca constante pelo pódio e, mesmo que ele não chegue, entendamos que a beleza da vida é estar no jogo, vivendo, aprendendo, crescendo e contribuindo.
 

Finalizo com uma frase de Nelson Mandela: “Eu nunca perco. Ou eu ganho, ou aprendo.”

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